19 de abr. de 2011

Crônica: Perigo! Não Leia


O mistério gera curiosidade e a curiosidade é a base do desejo humano para compreender

Wagner Batista Gonçalves

Perigo! Não Leia
Desde ainda criança, sem ao menos pronunciar palavra alguma, o homem demonstra a necessidade de saber, conhecer. São através de pequenos gestos, quando ainda crianças, que os seres humanos podem revelar esta necessidade inserida naturalmente em cada ser. Como quando ao oferecermos um simples objeto, como uma chave, a um bebê, e seu som diferente, o movimento que faz, desperta os seus sentidos, e podemos ver que no seu olhar, existe a busca em conhecer o que é aquilo novo que está diante dele.

Isso vem desde os primórdios da História em que o homem através de sua sede em conhecer, e compreender o funcionamento e princípios das coisas, desenvolveu e conquistou tanto. Ainda na idade da pedra, o homem sentiu-se atraído com o que acontecia quando um raio caia do céu e transformava folhas secas em fogo. Desta forma, podemos concluir que se iniciou a partir de um fato simples, porém ainda complexo naquela época. Foi sua sede em conhecer, e desvendar aquela incógnita, que o levou a experimentar tantas formas de criar aquela obra magnífica criada pela Natureza.

Com o passar das eras, dos anos, as incógnitas podem até ter se modificado, contudo a curiosidade permanece a mesma, vemos que uma simples frase pode despertar a curiosidade, e levar algumas pessoas a lerem, apenas por curiosidade. Pois em cada área da vida do homem, o que o movimenta são os mistérios.
Como poderia haver algum filme, com superprodução sem ao menos um enigma a se resolver? Sejam os filmes de ação ou romance, sempre existirá algo a ser descoberto. Na Ciência isso se mostra muito mais claramente; a cada nova tecnologia que pode ser elaborada, ou em células que podem ser curadas através de novos anticorpos. Estes avanços se dão pela necessidade do homem em conhecer.

Aquilo que é desconhecido gera muitas vezes medos, inseguranças, dúvidas quando confrontado pelo ser humano. Se por um lado esses sentimentos trazem certo desconforto em algumas ocasiões, por outro se trabalhados de forma construtiva, podem gerar grandes feitos. São dúvidas como estas que levaram os grandes criadores a enfrentarem seus medos, e provarem para si mesmos e para as outras pessoas, que sua teoria era fundamentada, portanto eram verdadeiras.Podemos ver que em um escritor, uma de suas características eminentes, é sua incrível habilidade em observar. Talvez este seja o primeiro passo a resolver um mistério.

Em sua nova história, este olho tão atento, deseja conhecer e gravar tudo que o envolve. O cenário que está a sua volta, com a grama recém-cortada, com as flores que exalam o perfume, e dançam sob o sopro dos ventos e embalados pelo som dos pássaros. E depois de tanto procurar ele encontra sua musa inspiradora, aquela a qual viera lhe despertar os mais belos sentidos. Em seu jeito meigo e tímido, em seu coração ela esconde num imenso oceano, os sentimentos que pedem para ser descobertos. No mais profundo deste oceano ela se esconde se fazendo mistério aos olhares do autor. O que estará ela escondendo em seus belos e tímidos olhos? Nas palavras que ainda não foram proferidas, no sorriso que ainda se esconde, todo este mistério é que encanta o autor, e que o faz fantasiar uma mulher que talvez seja aquela a quem ele descreverá; como também se revelada, a linda donzela não seja tão encantada.

Contudo, é o mistério que vai abrir uma série de possibilidades em se criar o personagem desta nova trama. Vemos que até no dia-a-dia nos relacionamentos afetivos, um mistério é que desperta o maior interesse, é exatamente o que diferencia e destaca um alguém dentre a multidão de pessoas que dividem um mesmo habitat. O mistério é excitante, e clama pela descoberta, por desvendar cada simples incógnita que se encontra atrás de cada porta que nos é apresentada.
Muito do que é apresentado inteiramente sem reservar nada, acaba por perder sua essência. As pessoas e cada situação de nossa vida podem ser comparadas a um livro, que deve ser descoberto, revelado a cada página virada. A cada linha que é lida, uma nova revelação é descoberta, dando um brilho e um charme àqueles versos. O que seria de um encontro amoroso, se não houvesse o que ser descoberto, se todo o mistério já tivesse sido revelado? Não haveria as tentativas em se agradar um ao outro. Será isso uma descoberta de por que os casais há tempos unidos, não demonstram mais o carinho de quando jovens? Ambos já se conhecem perfeitamente, a ponto de saberem seus erros e acertos, qualidades e defeitos, e por isso o brilho daquele grande amor já se ofuscou pela ação do tempo.

Sendo em campos tecnológicos, educacionais, afetivos ou qualquer outro campo que envolve o ser pensante, vemos que os rios que movem o moinho do conhecimento, e que faz crescê-lo e desembocar num mar de possibilidades é a dúvida gerada pelo mistério. Provavelmente se o homem não tivesse a curiosidade entranhada em seus instintos, não existiria tudo que temos acesso atualmente.

Por que o horizonte sempre fora tão instigante a todos, será por não ter fim? É como a felicidade, que se busca diariamente, mas não se sabe se encontrará plenamente, pois quanto mais nos aproximamos de um horizonte, mais ele se afasta quanto mais sonhos realizamos, ainda mais se formarão a nossa frente. É exatamente isso que não nos faz estáticos e sempre nos move a seguir em frente.
Importante é percebermos que sempre existirá algum detalhe nunca visto, ou mistérios que devem ser descobertos, mesmo achando que sabemos tudo sobre aquele determinado assunto, ou sobre aquela pessoa. Pois enquanto houver questões a serem respondidas, existirá a busca pela resposta, o que não são as respostas que movem o mundo, mas são as dúvidas.

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